segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Antes do fim.

M - Ah não!
a minha bola:
pulou o muro,
nem me esperou.
Te assustou?

V - Num cemitério?
e nessa noite,
que embora feia,
és de verão?

"Quisera um susto,
ou uma bolada
pra esse câncer,
velho, pulmão.

M - E o que faz,
vovô de alguém?
E essas flores,
trouxe pra quem?

"Elas são velhas,
parecem murchas
só se dá flores assim
se essas forem pra ninguém!

V- Mas não é exatemente
ninguém que eu vim visitar?

M- É o que posso assumir
visto que sempre está
tão sozinho
nesse frio
coisa nenhuma à fitar.

V- Foi pra tudo que eu tive
 foi pra ela que eu me atrevi
a voltar à esse lugar de vidas
desprezadas e escondidas
pelo Sol e em outras vidas
como a minha
como meras flores murchas
que vagam à tantos anos sozinhas
pelas ruas.

M - Mas quantos tantos anos assim
que você tem?
E quem foi a puta que te matou e
ainda te deixou o corpo ardendo
nessa sua já vida desgastada?

V - Não vou dizer
não sei contar
mas acho que são mais de cem.
E como ousas
falar do nada,
que eu sempre tive
seja com alguma rima,
ou seja sem?

M - Desculpe mas
veja bem só:
és tão pobre, velhinho
E ainda mais
são muitos anos
Tu ainda vive?
Vives sozinho??

 "Como não cansas
de, contigo mesmo
se conversar?
ou não notastes
que não te escutas,
maldito ar?

V- Mas olhe lá
como é que fala!
Insulto hórrido!
Na minha época
não ousarias,
e à um senhor de idade,
com essas línguas,
não falarias!!

M - Não é insulto
nem nada não
Mas vi que as vezes
você tá tão
falando em mut
lembrando em tom
de preto e branco
E me parece
que essas vidas
já te falaram
tudo que tinham
e que, até
os pensamentos,
à você nada diriam.

V - É que às vezes
a tal saudade
me dói um tanto
és grande espanto
não ter o que sempre tive.
Os pensamentos
São, da vida, conclusão
para serem endereçadas
direto à casa da Morte
entregue em vossa mão.

M - Se tu quisesse
eu lhe dava a bola
um novo sonho
-meu velho sonho
que não será.
E assim esquecia
e melhorava
o rosto rugado
de tristeza sábia.
V - Não se preocupe
que quando tudo
que for pra mim
enfim, chegar
eu - a vida - estarei
em fim e pronto
disposto até
a me entregar
pois aprendi
que tanta vida
é algo à mais
que a dona Morte
consegue tolerar.


e assim, de novo
a bola rola
a lua canta
um rosto chora
antes do
fim.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Se existir, me explique

Há de haver algo mais importante pra se falar
que o amor.
Alguma coisa também tão nova e tão velha,
mas um pouco menos desgastada,
pelo tremendo uso da palavra.

Eu só espero que essas possíveis
coisas mais importantes pra se falar
do que de amor,
se existirem,
um dia consigam,
da forma mais amorosa possível,
me explicar por que que eu só sei me declarar.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Se eu mentisse bem, você queria?

E se eu disser que encontrei
o seu retrato numa flor?
No meio dessas lindas flores
Que vivem à sós nesses jardins.

Se, ainda mais, disser que sei
um lugar onde talvez
pudéssemos achar bonito o
alvorecer.

Se eu te contar que sonho?
Que imaginei uns dias de luar
sem frio e sem chuva e
Só aquela velha luz de Lua?

Que já até imaginei
todos os beijos que eu
(vou) te dei.

E que também no fundo de um
Lindo Rio - eu imaginei-
Nos sobraria ar
Pra respirar e pra você
Me responder:
Toda a beleza desse seu sorriso,
você deixa eu conhecer?

Ou me obriga a esquecer?

Pois se não deixar
Se não quiser
Se o cheiro das flores que eu te
trouxer
te enjoar

Eu juro que continuo na minha:
outra vida, essa de viver.
E que vou sonhar mais um milhão de vezes,
ansioso pela aquela utópica noite
em que enfim o sim será no fim
o que você vai me dizer

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Baseado em fatos reais

olho um jornal e
imediatamente arranco-lhe
uma pagina

uma fumaça nesse tempo livre
essas mentiras sobre fatos reais
baseado(a) em fatos reais

a queima de pretensiosos arquivos:
ao invés de ler jornal, eu leio livros.