Amanhã
começam as aulas, mas eu não sei nem se vou conseguir dormir a noite toda.
Talvez demore mais do que um sono. Talvez demore 9 horas, minuto por minuto,
segundo por segundo, pra eu ter que acordar do meu não sono e ir pra faculdade.
Reencontrar pessoas bonitas, pessoas feias, pessoas queridas, pessoas amadas,
pessoas indiferentes, todas, à minha possível – provável – insônia.
Pior pro
Henrique, que vai pro meio da PUC amanhã, pela primeira vez. Vai esbarrar na
Cecília e não vai conhecer o seu grande amor. Vai subir pelas escadas olhando
pra tudo e pra todos, mas não vai conseguir porque são muitos e tem muitos
degraus, e aí ele não vai saber se são degrais ou degraus.
Vai começar
a suar, mas suar quente porque subir as escadas cansa e ele é gordinho. Vai pensar
em se jogar da escada, sair correndo desprezando os degraus, dar de cara na parede
sem saber o porquê, em descer a escada para não se jogar e ir pra casa, sair assobiando
até o corredor mais próximo, em beber um pouco d’agua ou morrer afogado na pia
do banheiro, lotado de gente com pizzas nos sovacos, gente fingido ser tudo aquilo que
não é, mas que queria ser um dia, mesmo que isso seja exatamente o oposto do
que deveria ser quem apenas tem medo.
Mas não, pra
Henrique medo não é só um apenas. E ele sairá do banheiro seco mas vai esbarrar em
Rafaela, que também não é o seu grande amor, nem mesmo uma possível foda de
entre aulas. Ele nem vai saber se Cecília e Rafaela têm esses nomes, vai até se perguntar por que que no primeiro dia de aula nessa porra as pessoas não usam crachás?
Ninguém mais tem medo de não ser reconhecido? De não ser notado??
Ele seria
capaz de colocar um nome esquisito no seu crachá, tipo Robesval, só para as
pessoas o notarem. Mas Rafaela não notou, nem Jéssica, nem Bruna, nem
Flora, nem Rosa, nem ninguém. Ele andará pelo interminável corredor do prédio da
PUC sem entender que coisas são essas que pessoas são essas, que merda é essa.
Chegará na porta da porta de sua sala depois de já ter repensado muito o que faria. Olhará pela fresta. Voltará a suar. E então vai ver.
Sua pizza ressurge, sua voz desaparece da mente, o ar fica pesado, ele cai. De
olho aberto. Seu grande amor estava ali. Roberto.
Mas ninguém
vai reparar. Ele seguirá sendo o gordinho que cai na porta da porta da sala. Nem
Roberto o socorrerá. Henrique surtará em paz e decidirá virar Robesval.
Robesval não
se importa mais com pizzas, nem com degraus, nem com Cecília e sua turma.
Robesval tem nome lindo e acha Henrique nome de gente chata, puta que pariu. Se
joga no chão e grita, eu sou o gordinho Robesval que era Henrique e agora é só pensamento.
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Robesval não
tem insônia, mas se alimenta da minha.